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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Desvio de Conduta

Muito jovem ainda, me engajei nos trabalhos de assistência social da Casa, enquanto participava de reuniões de cunhos administrativos. Todos os dias, assim que deixávamos os afazeres profissionais, depois de breve estada em nossa residência para o banho e o lanche, seguíamos para a Casa Espírita onde realizávamos atendimentos as famílias assistidas.
Com apenas 20 anos e já casado, os meus hormônios ameaçavam sair pelos poros. O contato com o público feminino era inevitável, e como me encontrava guindado as tarefas que me emprestavam a falsa ideia de supremacia em relação àqueles que se acercavam buscando atendimentos, eu me achava o bom do pedaço ou “o varão espiritual da casa”. Após um ano, quando havia amealhado algum conhecimento do Livro dos Espíritos e do Evangelho Segundo o Espiritismo, fui convidado a participar das Reuniões de Desobsessão. Segundo informação dos diretores, daria aconselhamentos aos irmãos desencarnados que por desconhecimento sobre a sua nova situação, permaneciam na terra, sofrendo e cometendo impropriedades (obsediando).
Emocionado com a minha nova tarefa, me enchi de ares de importância e entrei na sala solenemente, pois a partir de então não ficaria apenas distribuindo orientações aos encarnados, e estenderia os meus pendores até aos sofridos irmãos desencarnados.
Dez médiuns sentados em torno da mesa permaneciam com os olhos fechados para preservar a boa concentração. A luz difusa e o suave som da Ave Maria sustentavam a harmonia do ambiente. Notei com alegria que registrava a presença dos irmãos desencarnados, que postados atrás dos respectivos médiuns, eram orientados a ali permanecerem aguardando a sua vez para se manifestarem através do aparelho fonador do encarnado.     
 Me chamou a atenção a aparência exótica de um espírito que exibia um jaleco repleto de purpurina e calças com tons avermelhados coladas ao corpo. Sua cabeleira, cujo topete e costeletas guardavam semelhanças com detalhes utilizados por conhecido astro do Rock and rol dos anos 60.  A entidade fez movimentos como se estivesse dedilhando uma guitarra e disse através do médium:
-Mulheres cheguei!!!
-Obrigado pela sua presença bom amigo – disse eu –aqui o irmão recebe, como está vendo, as luzes e o lenitivo da prece feita por nós!
-Quero aplausos das minhas admiradoras e o resto não me interessa!
-Não fale assim irmão – enfatizei com autoridade –antes de qualquer interesse mundano você deveria procurar o caminho com Jesus!
O Espírito deu uma tremenda gargalhada que me assustei. Em seguida a entidade fez com que o médium se voltasse para mim e dissesse: 


-Justo você me aconselhando a deixar o interesse pelo público feminino? Então o pastor é daqueles que manda fazer e não faz?
Que vergonha meu Deus. Como me livrar de tamanho vexame? Devo deixar esta sala enquanto ela se encontra as escuras ou esperar o fim dos trabalhos e enfrentar os olhos críticos dos dirigentes da Casa?
Eu estava a ponto de chorar, quando notei que uma entidade envolta em luminosidade, de mim se aproximou e disse:
-Não se preocupe Álvaro, continue conversando com o irmão necessitado, pois tentarei te ajudar!
Friccionei as próprias faces com as mãos frias para mudar o semblante, em seguida falei sob a inspiração da iluminada Entidade:

-Sim irmão visitante, eu confesso que sou uma criatura enferma, entretanto estou experimentando um remédio chamado Jesus, que me está fazendo um bem enorme, e pensei em dividi-lo com você!  

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