Muito jovem ainda, me engajei nos trabalhos de
assistência social da Casa, enquanto participava de reuniões de cunhos
administrativos. Todos os dias, assim que deixávamos os afazeres profissionais,
depois de breve estada em nossa residência para o banho e o lanche, seguíamos
para a Casa Espírita onde realizávamos atendimentos as famílias assistidas.
Com apenas 20 anos e já casado, os meus hormônios
ameaçavam sair pelos poros. O contato com o público feminino era inevitável, e
como me encontrava guindado as tarefas que me emprestavam a falsa ideia de
supremacia em relação àqueles que se acercavam buscando atendimentos, eu me
achava o bom do pedaço ou “o varão espiritual da casa”. Após um ano, quando
havia amealhado algum conhecimento do Livro dos Espíritos e do Evangelho
Segundo o Espiritismo, fui convidado a participar das Reuniões de Desobsessão.
Segundo informação dos diretores, daria aconselhamentos aos irmãos
desencarnados que por desconhecimento sobre a sua nova situação, permaneciam na
terra, sofrendo e cometendo impropriedades (obsediando).
Emocionado com a minha nova tarefa, me enchi de ares de
importância e entrei na sala solenemente, pois a partir de então não ficaria
apenas distribuindo orientações aos encarnados, e estenderia os meus pendores
até aos sofridos irmãos desencarnados.
Dez médiuns sentados em torno da mesa permaneciam com os
olhos fechados para preservar a boa concentração. A luz difusa e o suave som da
Ave Maria sustentavam a harmonia do ambiente. Notei com alegria que registrava
a presença dos irmãos desencarnados, que postados atrás dos respectivos
médiuns, eram orientados a ali permanecerem aguardando a sua vez para se
manifestarem através do aparelho fonador do encarnado.
Me chamou a
atenção a aparência exótica de um espírito que exibia um jaleco repleto de
purpurina e calças com tons avermelhados coladas ao corpo. Sua cabeleira, cujo
topete e costeletas guardavam semelhanças com detalhes utilizados por conhecido
astro do Rock and rol dos anos 60. A
entidade fez movimentos como se estivesse dedilhando uma guitarra e disse
através do médium:
-Mulheres cheguei!!!
-Obrigado pela sua presença bom amigo – disse eu –aqui o
irmão recebe, como está vendo, as luzes e o lenitivo da prece feita por nós!
-Quero aplausos das minhas admiradoras e o resto não me
interessa!
-Não fale assim irmão – enfatizei com autoridade –antes
de qualquer interesse mundano você deveria procurar o caminho com Jesus!
O Espírito deu uma tremenda gargalhada que me assustei. Em
seguida a entidade fez com que o médium se voltasse para mim e dissesse:
-Justo você me aconselhando a deixar o interesse pelo
público feminino? Então o pastor é daqueles que manda fazer e não faz?
Que vergonha meu Deus. Como me livrar de tamanho vexame? Devo
deixar esta sala enquanto ela se encontra as escuras ou esperar o fim dos
trabalhos e enfrentar os olhos críticos dos dirigentes da Casa?
Eu estava a ponto de chorar, quando notei que uma
entidade envolta em luminosidade, de mim se aproximou e disse:
-Não se preocupe Álvaro, continue conversando com o irmão
necessitado, pois tentarei te ajudar!
Friccionei as próprias faces com as mãos frias para mudar
o semblante, em seguida falei sob a inspiração da iluminada Entidade:
-Sim irmão visitante, eu confesso que sou uma criatura
enferma, entretanto estou experimentando um remédio chamado Jesus, que me está
fazendo um bem enorme, e pensei em dividi-lo com você!
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