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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Natal diferente


Antes que ocorresse a execução do meu primeiro livro ‘’Eu Você e as Estrelas’’, já me encontrava, há alguns anos, trabalhando na Seara Espírita. Sempre me voltei para a Assistência Social, em razão de atuar na periferia extremamente carente, onde me atrevi a dar aulas de Moral Cristã, aos domingos pela manhã.

Foto: Alvaro Basile juntamente com Rosemarie Giudilli Cordioli " Revisora de Seus Livros"
( Feirão do Livro em Santo André)

Vocês tinham que ver a festa que aqueles meninos de vestes muito alvas e remendadas faziam ao ver o meu Daufine chegando, a vinte km por hora, em meio à estrada de terra.
Atuando sem o mínimo de organização, não procedíamos nenhuma anotação referente a nomes e endereços daquela garotada. Era um trabalho muito primário, e, assim, fomos levando com aulas e distribuição de roupas e brinquedos, até às vésperas do Natal.
Lembro-me, com alegria, quando, às vésperas da nossa modesta festa natalícia, uma senhora, dizendo haver recebido muitas sacolas com mantimentos, estaria disposta a cedê-las para as nossas crianças, com a condição de que as mesmas fossem distribuídas em seu portão.
Era o dia vinte e quatro de dezembro. Com três Kombis lotadas de crianças rumávamos para a casa da benemérita irmã. Quando os meninos desciam dos veículos, entoando uma das músicas aprendidas durante as modestas aulas, lembro-me bem, que a mulher, ao ver aqueles pirralhos de vestes puídas, cantando, quedou-se aos prantos, junto ao portão.
Como sempre ocorre nos momentos de distribuição, apareceram alguns candidatos extras, mas possuíamos roupas e brinquedos suficientes. À medida que atendíamos  a uma criança, com os recursos que havíamos providenciado, aparecia alguém com uma sacola de mantimentos, completando a doação. Em dado momento um menino, dirigindo-se a mim, ao exibir a sacolinha protestou por não haver recebido os mantimentos.
Como eu ignorava a quantidade de sacolas disponíveis e constatando que o menino não era um frequentador das aulas, simplesmente passei a mão nos seus cabelos, dispensando-o, na alegação de que talvez ele não necessitasse dos alimentos.
Encerrada a distribuição, lá se foram as Kombis rumo à periferia, levando a molecada para um ponto estratégico, enquanto fiquei conversando  com a dona daquela festa, que me informou quanto à sobra de três sacolas, que colocou a minha disposição.
Duas horas da tarde. Requisitando a ajuda de Ariovaldo, um amigo que possuía um jipe com tração nas quatro rodas, saímos em busca dos casebres paupérrimos. Levamos as sacolas com alimentos.
Subimos e descemos ribanceiras, e o amigo perguntou-me para que lado seguiríamos; respondi-lhe que não tinha preferência. Paramos num alto de onde avistamos o telhado de zinco de um barraco. Descemos a escada de terra e quando eu ia bater palmas, para chamar os moradores, vinha em direção à saída uma velhinha seguida por quatro crianças, quando uma delas , ao me ver, disse:
– Vovó, foi aquele homem que se recusou a me dar os mantimentos hoje de manhã...
– Para onde vai a senhora? – perguntei ao notar que a velhinha carregava uma sacola vazia, ao que ela respondeu:
– Sou avó desses meninos; seus pais morreram. Hoje é véspera de Natal, nada temos para comer e estamos saindo para esmolar...
Ao retornarmos para o jipe notei que, junto ao carro, Euzébio sorria para mim. Pena que Ariovaldo não pôde vê-lo.
Às vezes me pergunto se alguém, na face da Terra, tenha passado, naquele ano, um Natal mais intenso e mais feliz do que eu!

Alvaro Basile

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