Logo após a crucificação de
Jesus, seus discípulos passaram a se reunir na modesta casa de Pedro. Os
resultados obtidos quanto à divulgação do Evangelho, durante aquele curto
período, foram relativamente satisfatórios, pois se limitaram, até então, a
visitação pelas aldeias vizinhas, onde os feitos do Mestre ecoaram, mas
tornava-se necessária uma expansão maior de atuação, exigindo de cada um dos
apóstolos, uma gama acentuada de sacrifícios.
Malgrado as perseguições do
Sinédrio, comandadas por Saulo de Tarso, as catacumbas garantiam-lhes alguma
segurança. Espiões do Império vasculhavam as áreas suspeitas onde se celebravam
cultos a Doutrina do Nazareno, mas, dedicados guardiões postados à frente dos
grandes subterrâneos encarregavam-se do alerta diante de uma eventual aproximação da guarda palaciana.
Era crescente o número de
adeptos simpáticos aos preceitos deixados pelo Carpinteiro de Nazaré. Cada vez
mais o povo buscava junto aos discípulos os sublimes ensinos que haviam
absorvido em companhia do Mestre. O trabalho intensificava-se pois aquela gente
sofrida carregava problemas de toda a sorte principalmente enfermidades graves
aliadas às carências de pão e agasalho.
Apesar de todo o esforço despendido, gerador de
visível cansaço estampado nos semblantes dos apóstolos, Tiago e Filipe exibiam
uma disposição que contagiava os demais, conclamando a todos ao serviço
edificante.
As novas
idéias que tornariam mais efetivas a Sublime Semeadura estabeleciam nos
corações dos servidores ânimo que inundava o ambiente, parecendo um grupo de
crianças valorizando a primeira empreitada.
Os missionários deixavam
transparecer determinação e boa vontade, com exceção de Pedro que revelava
extremo desânimo. Seus companheiros de apostolado embora estranhassem o
comportamento do velho missionário, não se atreviam a inquiri-lo a respeito,
tal a ascendência moral que o pescador exercia sobre os demais.
A maioria julgava que a idade
avançada já o impedia de atuar nas excursões cansativas que a propagação do
Evangelho exigia, entretanto, considerações menos benevolentes vinham à
baila:
-Creio que a partida de Jesus tenha desmotivado Pedro no
prosseguimento quanto aos trabalhos concernentes a Boa Nova- Sussurrou Tiago
reportando-se a Filipe –Trabalhar ao lado do Mestre tornava-se de certa forma
confortável, porém agora com sua ausência conheceremos o grau de determinação
de cada um frente às próprias obrigações.
-Se na verdade tal fato estiver
ocorrendo, temos que nos apressar em chamá-lo a responsabilidade e se caso for
necessário colocaremos alguém para substitui-lo na dura empreitada.-Arriscou preocupado Filipe a meia voz.
Pedro sentia-se extremamente
deslocado dentro de sua própria casa. Destoava dos demais e envergonhado com o
próprio comportamento, deixou a sala dirigindo-se ao quintal.
O velho apóstolo sentou-se,
recostando a cabeça na árvore centenária, entregando-se a profundas reflexões.
As alegrias de haver sido abordado pelo Mestre enquanto pescava, foram
substituídas por lágrimas ardentes que escorriam, assomando as longas barbas
encanecidas. Sentia saudades do Nazareno, remoendo preocupação ao relembrar
Suas palavras, que dissera diante dos outros discípulos: “Pedro tu és pedra e
sobre ti erguerei o meu Reino!”
Naquele instante Pedro já não
conseguia divisar com clareza os astros que pontilhavam o firmamento. Seus
olhos que o pranto inundara somente registravam um clarão tal e qual o branco
lençol semelhante à Via Láctea. Guardava a impressão de estar ouvindo mavioso
som Divino executado por mãos celestiais. Bailava na atmosfera altivo perfume,
tal e qual sentira exalar do Cristo nas memoráveis pregações junto às margens
do Tiberiades.
Nesse deslumbramento teve
diante dos olhos um quadro maravilhoso, onde estrelas depois de se agruparem
tomaram a forma de uma cruz que se projetou em sua direção.
O velho pescador de Cafarnaum
debruçou-se sobre os joelhos chorando convulsivamente. Ao erguer o olhar
divisou a imagem do Sublime Amigo que após acariciar suas brancas madeixas
disse:
“Pedro retoma o bom ânimo,
recolha as minhas sementes e saia a semear, os famintos que virão no fim dos
tempos, se fartarão dos frutos de teu plantio”.
-Mestre!-exclamou o discípulo
chorando - estou perdido, vivo qual barco sem rumo em meio à tempestade!Desde
daquele momento em que Te neguei, não consigo falar em teu nome para ninguém.
Sinto-me por demais envergonhado. Sou um inútil !
Nesse instante o velho pescador
ouviu dos lábios de Jesus um sublime ensinamento, lição que aproveitara para
levar em favor dos caídos, que
alegavam desânimo, atribuindo-o aos próprios erros do passado.
“Pedro levanta-te! Se passares as horas lamentando o
fato de me haver negado por três vezes, quando encontrarás tempo para ajudar
àqueles que me negam a cada instante?”
Alvaro Basile Portughesi
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