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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A Velocidade da Luz

Convidado a participar do casamento da filha de Deoclécio, em Cafarnaum, Jesus empreendeu longa caminhada àquela cidade, juntamente com Tiago e Felipe.
À tarde do primeiro dia de caminhada, os discípulos cansados e sedentos, convidaram o Mestre para repousar. Ao primeiro clarão da manhã seguinte, ainda dominados pela sede, despertaram e, surpresos, constataram que ao pé da árvore, junto à qual haviam repousado, encontrava-se um cântaro de água fresca. Após mitigar a sede partiram, só atingindo seu destino ao entardecer.
A residência de Deoclécio estava em festa. Serviçais perfilavam-se reverentes na recepção aos convidados. Dentro do imenso caramanchão, inúmeras mesas continham vinhos e assados em abundância. Foi ali que uma jovem mulher, trazendo nas mãos trêmulas uma bandeja, aproximou-se de Jesus, dizendo-lhe:


–Mestre! Aqui me encontro tangida pela fome. Espero que a bondade de Deoclécio não me negue os restos de sua mesa. Tenho vivido em extrema penúria e, para meu maior infortúnio, minha filha de cinco anos, após sofrer pequeno ferimento enquanto brincava, teve a sua perna gangrenada. Como se não bastasse, embora a saúde de minha pequena exigisse cuidados, fui obrigada a deixá-la à mercê do destino, pois que, se assim não o fizesse, antes que a gangrena a consumisse, ela pereceria de fome.
Tiago e Felipe, que permaneciam ao lado de Jesus, entreolharam-se penalizados com a situação da pobre mulher, esperando que o Mestre resolvesse partir de imediato em socorro da criança enferma.
–Então, mulher! Que queres que eu faça?- Perguntou serenamente Jesus.
–Mestre, sei que durante as suas andanças, tens socorrido criaturas em lastimáveis estados, devolvendo a visão aos cegos, fazendo os paralíticos caminharem. Rogo-te pois, Senhor, em favor de minha filha!
Alguns curiosos aproximaram-se, ao observarem a jovem mulher em pranto, diante de Jesus. Esperavam todos, que o Messias partisse prontamente em socorro da menina. Mas tal não sucedeu.
Tiago e Felipe, mal se continham ante os comentários que ouviam sobre o Mestre.
–Como é preguiçoso o bruxo!
–De velhacos e vagabundos o mundo anda cheio- afirmou outro.
Mais distante, duas mulheres comentavam:
–Eu ainda não o vi comer, mas garanto que debaixo de seu manto, deve haver alguns assados escondidos.
Durante o retorno, os dois discípulos, não ousavam uma única palavra. Limitavam-se a meditar sobre o comportamento do Mestre que, se por um lado dignara-se empreender uma longa jornada para participar de uma festa, por outro, negara-se em socorrer uma pobre criança.
Finda a festa, a jovem mãe recolheu os restos que lhe cabiam, rumando em seguida para o seu casebre, onde o ambiente era muito diverso. Notou com surpresa que a velha lamparina se encontrava acesa projetando sua luz através das frestas do barraco. Abriu a porta e notou com imensa alegria, que sua menina estava em pé, ajeitando sobre a mesa tosca, uma toalha remendada.
–Filha, você está bem?!
–Estou ótima mamãe!!!
–O que aconteceu?- Perguntou-lhe a mulher, derramando lágrimas de emoção e alegria.

–Ontem à noite, quando o suor me banhava a fronte e os sentidos me fugiam, ouvi a porta do nosso barraco ranger e por ela vi entrar um belo homem de cabelos longos, olhos claros como o sol e a voz mansa como o canto dos pássaros. Com um breve sorriso, colocou sua mão sobre minha cabeça, fazendo com que tudo se transformasse. Fiquei tão feliz com o meu restabelecimento que ousei oferecer-lhe pousada. Ele disse-me que não poderia aceitar, pois, havia deixado dois amigos em uma estrada e precisava retornar para junto deles. 

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