Convidado a participar do
casamento da filha de Deoclécio, em Cafarnaum, Jesus empreendeu longa caminhada
àquela cidade, juntamente com Tiago e Felipe.
À tarde do primeiro dia de
caminhada, os discípulos cansados e sedentos, convidaram o Mestre para
repousar. Ao primeiro clarão da manhã seguinte, ainda dominados pela sede,
despertaram e, surpresos, constataram que ao pé da árvore, junto à qual haviam
repousado, encontrava-se um cântaro de água fresca. Após mitigar a sede
partiram, só atingindo seu destino ao entardecer.
A residência de Deoclécio
estava em festa. Serviçais perfilavam-se reverentes na recepção aos convidados.
Dentro do imenso caramanchão, inúmeras mesas continham vinhos e assados em
abundância. Foi ali que uma jovem mulher, trazendo nas mãos trêmulas uma
bandeja, aproximou-se de Jesus, dizendo-lhe:
–Mestre! Aqui me encontro
tangida pela fome. Espero que a bondade de Deoclécio não me negue os restos de
sua mesa. Tenho vivido em extrema penúria e, para meu maior infortúnio, minha
filha de cinco anos, após sofrer pequeno ferimento enquanto brincava, teve a
sua perna gangrenada. Como se não bastasse, embora a saúde de minha pequena
exigisse cuidados, fui obrigada a deixá-la à mercê do destino, pois que, se
assim não o fizesse, antes que a gangrena a consumisse, ela pereceria de fome.
Tiago e Felipe, que permaneciam
ao lado de Jesus, entreolharam-se penalizados com a situação da pobre mulher,
esperando que o Mestre resolvesse partir de imediato em socorro da criança
enferma.
–Então, mulher! Que queres que
eu faça?- Perguntou serenamente Jesus.
–Mestre, sei que durante as
suas andanças, tens socorrido criaturas em lastimáveis estados, devolvendo a
visão aos cegos, fazendo os paralíticos caminharem. Rogo-te pois, Senhor, em
favor de minha filha!
Alguns curiosos aproximaram-se,
ao observarem a jovem mulher em pranto, diante de Jesus. Esperavam todos, que o
Messias partisse prontamente em socorro da menina. Mas tal não sucedeu.
Tiago e Felipe, mal se
continham ante os comentários que ouviam sobre o Mestre.
–Como é preguiçoso o bruxo!
–De velhacos e vagabundos o
mundo anda cheio- afirmou outro.
Mais distante, duas mulheres
comentavam:
–Eu ainda não o vi comer, mas
garanto que debaixo de seu manto, deve haver alguns assados escondidos.
Durante o retorno, os dois
discípulos, não ousavam uma única palavra. Limitavam-se a meditar sobre o
comportamento do Mestre que, se por um lado dignara-se empreender uma longa
jornada para participar de uma festa, por outro, negara-se em socorrer uma
pobre criança.
Finda a festa, a jovem mãe
recolheu os restos que lhe cabiam, rumando em seguida para o seu casebre, onde
o ambiente era muito diverso. Notou com surpresa que a velha lamparina se
encontrava acesa projetando sua luz através das frestas do barraco. Abriu a
porta e notou com imensa alegria, que sua menina estava em pé, ajeitando sobre
a mesa tosca, uma toalha remendada.
–Filha, você está bem?!
–Estou ótima mamãe!!!
–O que aconteceu?-
Perguntou-lhe a mulher, derramando lágrimas de emoção e alegria.
–Ontem à noite, quando o suor
me banhava a fronte e os sentidos me fugiam, ouvi a porta do nosso barraco
ranger e por ela vi entrar um belo homem de cabelos longos, olhos claros como o
sol e a voz mansa como o canto dos pássaros. Com um breve sorriso, colocou sua
mão sobre minha cabeça, fazendo com que tudo se transformasse. Fiquei tão feliz
com o meu restabelecimento que ousei oferecer-lhe pousada. Ele disse-me que não
poderia aceitar, pois, havia deixado dois amigos em uma estrada e precisava
retornar para junto deles.
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